Nos últimos anos, em Portugal, ninguém sabe dele. Presença assídua nos media, especialmente na TV, a verdade é que o Pai Natal foi perdendo fulgor e presença. Parece-se com aquelas músicas datadas, que só foram sucesso num período de tempo e depois desapareceram. Os portugueses viram-no desaparecer da agenda dos meios de comunicação, e não fizeram nada. É como se não fizesse falta. Acredito que tenha morrido.
Vai daí, fui tentar saber quem o matou.
#1 – A história
Comecei as minhas investigações na Wikipédia, poderia haver algo na história natalícia que tenha provocado o desaparecimento do senhor de barbas brancas. Afinal, o culto do Pai Natal foi construído ao longo dos séculos, pegando num ritual daqui e outro de acolá. O Pai Natal é o produto de séculos de apuro histórico, à qual se juntou a mediatização de um ou outro famoso, que lhe foi dando forma. Não, a história não matou o Pai Natal – ajudou a construí-lo.
#2 – A Popota e a Leopoldina
O suspeito seguinte era a Leopoldina. Numa primeira fase, foi sub-repticiamente ocupando o destaque dado ao Pai Natal, com o seu “mundo encantado dos brinquedos, onde há reis, princesas, dragões”. A prova da cabala está na música: o mundo encantado tem lá tudo o que uma criança gosta… menos o Pai Natal. Mas nada fazia prever o que estava para vir, e o que vinha era GRANDE: a Popota. Aí tudo mudou de nível: a Popota ocupou o lugar do Pai Natal nos media e fê-lo até à exaustão. Com toda a naturalidade, matou o Pai Natal por KO. Foi isso. Mas investigando um pouco mais, o Pai Natal também não foi santo (embora lhe chamem na América do Norte de Santa Claus). Associou-se a várias marcas despudoradamente, sendo a Coca-cola uma das suas paixões – mas houve muitas, inclusive do mundo das bebidas… mas muito antes da Coca-Cola. Talvez não tenha sido a Popota e a Leopoldina a matar o Pai Natal. Não se pode julgar culpado quem vence com as mesmas armas do inimigo. Se o povo gosta da Popota, mas esquece o Pai Natal, não há crime – há um problema de memória. Devia haver outra explicação…
3# O espírito Natalício
Por vezes as coisas acabam, porque os locais onde vivem também acabam. Se calhar, o espírito natalício, tal como o conhecíamos, acabou – e o Pai Natal foi despejado. O Natal tem sido cada vez mais patrocinado pelas marcas. O consumismo desenfreado, a associação constante do Natal com as prendas (não as do Pai Natal, as outras – desde os tablets à roupa, dos plasmas às Ikeas), a “centrocomercialização” dos domingos à tarde. Tudo conta para transformar o Natal não numa tradição emocional, mas numa catedral de consumo calculado. O lado simples e desinteressado do Natal passou a pressão social. Fica mal não dar prendas, mas já não fica mal se não dermos significado. Somos “de outro mundo” se não corrermos os centros comerciais a partir de inícios de Novembro, à procura de prendas em conta. É-se mau gestor se a nossa loja não começar a anunciar o Natal em Agosto.
Talvez a resposta para o mistério esteja aí: com a perda de significado do Natal, a Unique Selling Proposition do Pai Natal deixou de ser relevante. Num Natal mais comercial do que nunca, até a mascote mais mal desenhada lhe ganha, desde que tenha uma marca por detrás.
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Francisco Teixeira www.franciscoteixeira.com
Consultoria e formação em Comportamento do Consumidor
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