Gastar dinheiro é chato. A simples noção de que estamos a gastar é, já em si, desconfortável. Quanto mais consciência tivermos de que o dinheiro nos está a sair do bolso, pior. Gastar implica uma “dor” na nossa saúde financeira (“pain of payment” – emoções negativas que experienciamos quando pagamos com dinheiro – ver Prelec & Loewenstein, 1998). Mas as empresas têm desenvolvido ao longo dos tempos, estratégias eficazes para apagar a consciência de que estamos a gastar. Longe da vista, longe do coração. Eis 5 mecanismos (há muitos mais), que como quem não quer a coisa, ajudam nesse objectivo:
- Dinheiro virtual. As Bitcoins serão a divisa do futuro. Muitas transacções são feitas exclusivamente pela internet, pelo que desse ponto de vista, este tipo de divisa tem lógica em existir. Mas a substituição do dinheiro físico por dinheiro virtual, retira consciência ao acto de gastar dinheiro. E caso não saiba, existem mais de 10 alternativas às Bitcoins!
- Contactless. A aproximação de cartões de débito e crédito a leitores próprios, torna o pagamento mais rápido e mais cómodo. Mas também torna esse pagamento menos consciente –
o que talvez justifique o sucesso desta tecnologia. Outras tecnologias como o Google Wallet, por ex, também incentivam à comunicação directa entre dispositivos, com pouca ou nenhuma intervenção humana.
- Pórticos de auto-estrada. As antigas “scuts” actualmente possuem um sistema de pórticos em que, através de um identificador da Via Verde, o valor da passagem pelos mesmos é automaticamente descontado na conta bancária associada ao identificador. O mesmo sistema pode ser utilizado nos postos de abastecimento da Galp. A diferença entre os pórticos e as portagens tradicionais (via verde ou manuais) está na forma como percepcionamos o pagamento. Manualmente, estamos em plena consciência do dinheiro que gastamos; na portagem Via Verde, o valor surge-nos num visor assim que saímos da auto-estrada; nos pórticos, o dinheiro sai-nos da conta e dificilmente sabemos quanto gastamos (a não ser quando recebemos o extracto). Os pórticos apresentam o maior grau de comodidade no pagamento e mobilidade – mas o menor grau em termos de consciência do dinheiro que gastamos.
- Débito Directo. Já deve ter reparado que é um procedimento comum das empresas, de diferentes sectores, incentivarem os seus clientes a aderir ao débito directo. Por vezes, a simples opção pelo débito directo, dá direito a descontos significativos. Porque será? Há boas razões para isso. A automatização faz com que o consumidor não tenha a perfeita noção de que está a “gastar”. Não fica com um recibo na mão, não tem nada de tangível. Esta menor consciência de que o dinheiro saiu da conta, traduz-se por vezes num “não sei a quantas ando”, que impede o controlo eficaz da contabilidade pessoal. No pagamento tradicional, podemos controlar melhor os gastos. Mas o Débito Directo esconde outro inconveniente: podem haver ordens de Débito Directo já desactualizadas da realidade. Há que cancelá-las manualmente.
- Formas de pagamento. Plataformas como a Paypal ou cartões (de crédito ou débito, por ex), são meios de pagamento que facilitam a nossa vida. Pessoas que utilizam cartões têm maior tendência para gastar mais (comparativamente com o pagamento com dinheiro).
A automatização de pagamentos (memorização de dados para pagamento em sites, por ex) reduz consideravelmente o tempo gasto nas transacções. Mas a comodidade tem um preço: reduzem a dor do pagamento, pelo que mais dificilmente controlamos os gastos.
Conhece outras formas de tornar o acto de pagar menos consciente? Partilhe-as nos comentários!
Consultoria e formação em Psicologia do Consumo | Estudos de mercado | Inovação | Branding Strategy | Customer Experience Management