Há uns anos fui em viagem à Itália Central, por 9 dias. Recordo com riso as peripécias na praça de táxis de Fiumicino, e a alucinante viagem no táxi entre o aeroporto e o centro de Roma. As manobras perigosas e as infrações do taxista foram tantas, que a certo ponto me julguei arrependido da viagem. À entrada, Roma pareceu-me feia. Mas depois…
Roma foi bela. Tão bela. Durante mais de 4 dias foi a cidade mais bela do mundo para mim. Patusca, a lembrar-me o cinema italiano, genuína, aconchegante, com mil fontes de água fresca para saciar a sede e os sentidos. Tudo era monumento e beleza. Viver aquela cidade permitiu ao meu coração sentir o afago da novidade, do espanto. Do encantamento.
Estava preparado para partir para Siena, e depois para Florença. Mas o que se passou a seguir foi completamente inesperado.
Inebriado pela experiência que vivera na capital italiana, nada despertou em mim as mesmas sensações que Roma despertara. Siena é um doce. Florença é belíssima. Depois de Roma, perdi a capacidade de me maravilhar. Essa capacidade só regressaria mais tarde, ao deslizar pelas ruas-margens de Veneza.
Podem perguntar-se o que este apontamento tem a ver com Marketing ou Gestão. Tem tudo.
Alguma vez parou para pensar nos custos da perda de encantamento na economia e na sociedade?
Nos danos que causa a agências de publicidade, que cada vez têm de ser mais agressivas e eficazes para obter o mesmo efeito que conseguiam há anos atrás? Nas pessoas que recorrem a réplicas e cópias porque são “o mesmo” que os originais? No quase esvaziamento semântico da palavra “novo” (das mais usadas em marketing)? Na perda de chama que sofrem os espectáculos, o cinema, a literatura? Na cada vez maior vulgarização das grandes descobertas científicas – que antes abriam bocas de espanto em toda a parte?
Quando estamos maravilhados, estamos a ver o novo. Estamos a assimilar e a encaixar, nas nossas estruturas mentais, algo que precisa ser acomodado, com jeitinho, à mão. A desafiar a reconfortante – mas monótona – certeza daquilo que temos como garantido. O caudal de informação que nos chega está a inocular-nos, a anestesiar a nossa noção de novidade. Recorre-se mais ao choque, à violência gratuita e até ao humor, do que antigamente, de forma a ultrapassar a carapaça da apatia. Saber e ver demais está a cegar-nos perante coisas tão maravilhosas.
Como pode o marketer moderno ultrapassar os anticorpos que os consumidores estão a gerar face ao encantamento, mas sem cair na banalidade nonsense actual? Deixo algumas dicas que podem ajudar. E, paradoxalmente, não são novas.
– Ofereça um serviço de excelência. Certamente produtos como o seu, há muitos. Mas serviços de excelência, não.
– Privilegie a experiência do consumidor. Proporcione várias experiências agradáveis, espalhadas no tempo, e de intensidade moderada (funcionam melhor que uma única experiência fantástica)
– Aposte no marketing sensorial. Se a nível cognitivo as pessoas já viram de tudo, sensorialmente ainda têm muito para aprender.
– Estimule o sentimento de pertença. Não apenas o virtual, mas sobretudo o real.
– Mime o seu cliente, incorpore branding emocional. As emoções quebram sempre barreiras de indiferença.
– Promova uma relação de confiança e justiça / equidade com os seus clientes.
– Venda sonhos, ambições e auto-estima positiva.
– Alinhe os ideais da sua empresa com os dos seus clientes.
– Co-crie, divida responsabilidades com o consumidor, quando o objectivo é criar um mundo melhor.
→ Ps: estou à procura de colocação numa empresa que queira voltar a encantar. Enquanto Marketing Psychologist, posso ajudar nesse objectivo! Contacte-me: franjt@gmail.com
Psicologia do Consumo | Estudos de mercado | Inovação | Branding Strategy Customer Experience Management
Um doce! Obrigada pela viagem, não foi necessário levantar-me da cadeira.
Sabes, as marcas não sabem o que perdem, pela agressividade, pela repetição, os 20% no dia, para o dia seguinte (como fez o ECI na campanha dos brinquedos, um hediondo gozo ao consumidor), o massacre das black friday…
É tão bom ser seduzido.
Caramba, não aprendem!
E, e eu, e outros, fugimos, nauseados. O marketing paradoxal é isto, é o que estamos a viver nestes últimos dias.
Continua Francisco! Ainda estou sentada na minha secretária, subi um pouco, agora estou nas Cinque Terre…
Continua!
Cinque Terre… Gostava de ir lá um dia!
Obrigado pelas palavras e pelo apoio, Maria!
O mundo anda demasiado estandardizado, por estes dias 😦
Há que quebrar presunções e gerar maior calor humano!
Thanks!
Fiquei encantada com sua maneira de descrever oq parece óbvio. Obrigada!
Muitíssimo obrigado pelas suas palavras!
Disponha!
Francisco Teixeira
É incrível como o seu texto transmite o que sinto há muito tempo. Por vezes desejo voltar a ser criança para me deslumbrar com as pequenas coisas da vida, voltar a sentir aquela alegria que vejo estampada no rosto da minha filha quando vê algo novo… Trabalho num hipermercado e compreendo que o que interessa é chegar às grandes massas, mas depois o que falta é cada cliente sentir-se único. Quando conseguimos fazer isso ficamos com clientes que também nos fazem sentir únicos e já me chegaram a dizer ” prefiro fazer mais km e ser atendido nesta loja” ou ” sou emigrante neste país e há 16 anos quando entrei nesta loja foi consigo que falei pela primeira vez e nunca mais me esqueci…”
O problema está em ser cada vez mais difícil continuar a ser assim, pois aposta-se cada vez mais em campanhas e cada vez menos funcionários…..
Marta,
Muito obrigado pelas palavras.
Deveria ser obrigatório, uma vez por semana, voltarmos a ser crianças 😉
Muito se aprenderia!
Infelizmente a economia está a gerar uma “máquina” demasiado insensível. A ver vamos no que isto vai dar…