Num artigo recentíssimo da Nielsen Wire, intitulado “Tapped in: craft and local are powerful trends in the beer aisle“, a gigante dos estudos de mercado fala da nova onda no mundo das cervejas: as cervejas artesanais, produzidas localmente e muitas vezes com equipamento modesto. Mas com muita qualidade. Em Junho de 2015, a cerveja artesanal já valia quase 12% do volume total de vendas nos Estados Unidos. Enquanto que as cervejas mainstream cresceram 0.6% no último ano, as artesanais cresceram cerca de 10.2%.
Tão importante como os números, é compreender o que os americanos entendem como cerveja “artesanal”: (1) é produzida em empresas pequenas e independentes; (2) são produzidas em pequenos lotes / quantidades e (3) são produzidas sem grandes aparatos industriais ou tecnológicos. Não menos relevante é o facto de serem os mais jovens (com idade legal para beber álcool) os principais impulsionadores do mercado. No entanto, há diferenças nos extremos etários:
– Indivíduos dos 21 aos 34 anos, consideram como factores mais importantes o facto de as cervejas serem artesanais, de manufactura simples, terem preço premium e qualidade.
– Indivíduos dos 55 aos 64 anos valorizam mais o facto de estas cervejas serem produzidas em empresas independentes e locais.
Em Portugal, penso que a quota de volume de mercado da cerveja artesanal não chega a 1%. Mas a categoria “cerveja” é muito apreciada no nosso país, pelo que penso haver margem para comodar – em força – novas tipologias de cerveja. A proliferação de cervejas artesanais, permite a este sector uma certa aproximação ao modo de actuação do sector dos vinhos, em que a variedade é uma grande vantagem para o consumidor.
Além do mais, a nível da psicologia do consumidor, há factores que podem atrair facilmente novos fãs para este mercado:
– O efeito mistério / novidade: poder aceder a outras experiências de consumo e de sabor que não são iguais ao que é habitual encontrar nas prateleiras do supermercado.
– A autenticidade reconhecida a essas cervejas e, por outro lado, a possibilidade de o consumidor usar essas cervejas como forma de afirmação, auto-expressão ou diferenciação face aos outros. A autenticidade funciona para os dois lados.
– São cervejas com forte potencial de storytelling e possibilidades quase infinitas de marketing tribal. O carácter regional destas cervejas atribui-lhes maior flexibilidade nas acções de marketing e na produção de novas soluções. O facto de serem empresas independentes e mais modestas, permitem um trabalho de branding menos rígido e mais interessante.
– São alternativas a um mercado fortemente dominado por duas marcas: Super Bock e Sagres. Há um empowerment evidente a favor do consumidor, que pode assim usar o poder da escolha para adaptar a cerveja à sua vida… e não o contrário.
Como é sabido, as grandes marcas portuguesas também se têm posicionado nesta vertente mais artesanal da cerveja, de forma a aproveitar a onda. E acho que fazem bem.
Quem é fã de cerveja artesanal?
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⌈Fotografia: Michael Stern Link: https://www.flickr.com/photos/68711844@N07/15203733404/ Licença: https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/ Attribution-ShareAlike 2.0 Generic (CC BY-SA 2.0)⌋